Tente entender as mulheres...




Capítulo 5 - A Mesma Velha Rotina




O despertador sempre foi um inimigo de Nishi, sempre o derrubando da cama e acabando com seus sonhos, o movimento de se levantar da cama já tinha se tornado automático, com um pulo e alguns passos já estava praticamente pronto. Seu corpo não parecia se acostumar, já que havia faltado a aula e ficado dois dias inteiros deitado em sua cama sem fazer absolutamente nada. Enquanto saia pela porta lembrou do acontecimento que presenciou e se desmotivou, pensar que veria a garota que gostava e ter que encara-la sem corar já o fazia ter vontade de se tocar na cama e hibernar por um bom tempo.

Hoje o trem estava vazio, estranho, já que ele sempre precisava se exprimir para sentar-se adequadamente, havia algumas pessoas nas extremidades, parecendo evitar Nishi, que se encontrava isolado no meio. Uma garota parou a sua frente e falou docilmente:

— Posso me sentar aqui?

E ele respondeu um sim desanimado enquanto olhava para baixo. Depois de alguns minutos de silêncio, a garota falou: — Falta pouco para chegarmos à escola, é melhor se levantar Hikata-kun, aliás, por que não foi na aula nesses últimos dias?

Conhecia aquela voz, conhecia muito, essa voz era de...

— Aki-chan! Gritou ele, dando um pulo para trás e escondendo a cara com sua mochila.

— Algum problema?

— N-não, é que eu não tinha percebido que era você, desculpe.

Depois de algum tempo, Nishi ainda estava virado para o outro lado, tentando evitar que ela visse seu rosto corado. Quando o trem chegou ao seu destino, Aki aproximou seu rosto próximo ao dele e encostou com o dedo em seu nariz, dizendo com um leve sorriso na cara. — Você é engraçado.

Ele ficou ali parado a vendo sair, totalmente vermelho e sem palavras. — O quê ela quer me deixando assim? Ela não tinha namorado? Então que pare com isso! Exclamava Nishi em seu pensamento.

Sua energia havia esgotado no trem e ele se arrastava pela descida enquanto seus cabelos pretos se moviam de um lado para outro acompanhando os movimentos lentos dele, que andava como um corcunda, deixando o vento quase inexistente o carregar. Olhou para o vidro da porta de uma loja e deu de cara com um trapo de gente, suas grandes olheiras se destacavam junto com seus olhos negros e seu cabelo totalmente desajeitado o fazia parecer um mendigo.

O sinal já havia batido e todo mundo havia entrado, o pátio estava completamente vazio e as árvores balançavam suas folhas com o vento calmo, aquilo o confortava e o deixava com uma tremenda vontade de dormir. Ele olhou para cima do prédio principal e lá viu uma silhueta preta fitando-o, ela pareceu o ver e saiu correndo.

Nishi tentou entrar na sala sem ser visto, mas seu plano falhou quando Taikou o viu e falou: — Cara, o que você está fazendo andando abaixado? Já melhorou?

E assim ele foi mandado para fora da sala de aula por chegar atrasado.

— Fique aí até o outro período começar e pense um pouco antes de fazer isso de novo. Disse o professor.

Ele se abaixou ao lado da porta e disse para o ar: — Pensar não é? Não me fale de pensar, nesses últimos dias eu devo ter pensado mais do que você o fez a vida inteira, velho. Botou suas mãos no rosto e abaixou a cabeça, falando baixo: — Ah cara, por que eu tinha que ver aquela cena? Eu me sinto tão incapaz.

Nesse momento uma bela figura parou a frente dele e disse: — Não fique desanimado a essa hora da manhã, vamos, levante-se. Ela estendeu a mão para ele, que segurou nela e se levantou, corando ao ver a sexy Kurohime-sensei. Seus cabelos pretos e longos, amarrados em um rabo de cavalo, seu decote que ressaltava seu belo busto e a roupa que fazia suas curvas maravilhosas se destacarem ainda mais, combinando com os óculos redondos e o sorriso gentil no rosto, faziam uma figura quase angelical.

— C-claro, obrigado por tentar ajudar. Disse ele, se dirigindo a sala de aula.



Sempre ficava olhando para a janela na aula e não fazia a mínima ideia do que se passava no mundo real, parecendo se trancar em uma dimensão só sua. Olhou para o prédio do ginásio e lá viu a estranha silhueta preta olhando em sua direção, seus olhos amarelos brilhantes iluminavam o resto do corpo, que era praticamente uma sombra viva. De novo, ela saiu correndo, parecendo perceber o olhar de Nishi. Ele achou meio estranho, mas ignorou, achou que estava delirando por ficar dois dias trancado em casa e se deitou na classe e acabou pegando no sono.

Ele acordou depois que o último período havia acabado com a cara amassada e a mesa toda babada, levantou a cabeça e esfregou o rosto, notando a sala completamente vazia , sem nenhum barulho ou sinal de vida, com certeza uma cena triste. De repente ouviu passos vindo do corredor e depois viu o lindo ser que entrou pela porta. Notou quem era e teve vontade de sair correndo.

— Você ainda está aqui Hikata-kun. Disse a sempre alegre Aki-chan.

— S-sim, eu cochilei sem querer e e e...

Ele havia travado.

Ela começou a apagar o quadro e Nishi suspirava a cada movimento. Por impulso, ele falou gaguejando: — Q-quer ajuda?

— Claro, se não se incomoda.

E então os dois começaram a limpar juntos, enquanto era hipnotizado pelo movimento de seus cabelos e o balançar de sua saia, a cena daquela noite voltou em a sua cabeça e ele criou coragem e decidiu perguntar sobre aquilo.

— A-Aki-chan, esses dias eu... E foi interrompido por ela, que virou e disse:

— Sabe Hikata-kun, eu tenho que lhe dizer uma coisa que venho guardando faz um tempo.

— Eu... O coração de Nishi palpitou e suas pernas tremeram. — Te amo.

Nesse momento ela se aproximou lentamente, envolveu seus braços nele e o beijou.



O beijo pareceu ser longo demais, quando tentou se livrar, sentiu uma fisgada na barriga e olhou para baixo, ela havia o golpeado com uma faca. Cambaleou para trás e levou um soco em cheio na cara que o atirou para trás de vez, encostou-se na parede e desviou-se contra a próxima investida, em um movimento rápido ela virou e chutou sua cara, o seu sangue não parava de jorrar e havia feito um rastro no chão, tentou rastejar até a porta como um animal machucado, mas sem sucesso, iria receber o golpe final.

— Por quê?! Aki-chan! Por quê? Gritou ele.

Ela esboçou um sorriso assustador na cara e investiu contra ele. Nesse momento, Kurohime-sensei entrou na sala e pegou uma classe com uma só mão e em um movimento golpeou a cabeça de Aki, fazendo o sangue se espalhar pelo quadro negro.



Capítulo 5 - A Mesma Velha Rotina: Fim.




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